quinta-feira, abril 28, 2005

Um general sem tropas?!

(Publicado na edição de 28 de Abril de 2005 do jornal POSTAL DO ALGARVE)

O Presidente da República já começou a desenhar o seu testamento político. Consciente das limitações crescentes da sua capacidade de intervenção na sociedade portuguesa no futuro próximo, Jorge Sampaio aproveitou as comemorações do 25 de Abril para lançar alguns alertas à sociedade política.

De facto, festejar Abril implica meditar sobre o percurso de Portugal nos últimos trinta e um anos, obriga-nos a apontar o dedo aos objectivos por cumprir e força-nos a corrigir aquilo que está mal!

E é o mínimo que podemos fazer, pois a escassez de recursos e a falta de vontade de muita gente, preocupada em manter o respectivo status quo, parece impedir que se faça algo mais!

Porém, o Presidente da República sublinhou que “a esperança que um novo ciclo político sempre traz consigo – e que não pode ser frustrada – constitui uma grande oportunidade para se fazer o que é preciso fazer. A margem é estreita e a hora não consente adiamentos ou ilusões vãs.”

Estamos completamente de acordo, em termos locais, importa descobrir como revigorar a capacidade de intervenção das autarquias, recuperar a participação dos cidadãos e abrir as suas portas. Como trazer as pessoas e as ideias para o debate político, afastando tiques passadistas e motivando os jovens e a sua generosidade...

Alicerçado na sua enorme experiência, Jorge Sampaio refere estar seguro “que o povo português, que já deu repetidas lições de maturidade democrática e de civismo, tem consciência do que está em causa”, sendo capaz de responder “com sentido de responsabilidade ao esforço, e mesmo aos sacrifícios que lhe forem pedidos, desde que seja mobilizado para tal e que ganhe a convicção de que esse esforço e esses sacrifícios necessários são partilhados por todos e darão bons resultados.”

Directo e corajoso como sempre, o Presidente da República aponta o dedo a todos os dirigentes políticos, desafiando-os a “assumir as suas responsabilidades com auto-exigência, conscientes de que as soluções de rotina e de continuidade não chegam para enfrentar os graves desafios que temos. Há muito a fazer e ninguém pode olhar para o lado e achar que a responsabilidade é do outro. Há muito a fazer no governo e na oposição, nas estruturas do Estado e no sistema partidário, na sociedade e na economia.”

Por ainda haver quem pense assim, alguns autarcas eliminaram as sessões comemorativas da Revolução dos Cravos, livrando-se da eterna recordação do sonho que alimentou aquela manhã da Primavera, do penoso exercício de auto-avaliação dos objectivos por cumprir e das vozes incómodas da oposição que insistem em lembrar os valores e os princípios da Democracia!

Qualquer reflexão tem custos, qualquer proposta de alteração tem efeitos. Falem-lhes em renovação geracional ou em limitação de mandatos. É o fim do mundo para quem entende que tudo deve ficar na mesma, como no tempo da velha senhora…

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