(Publicado na edição de 11 de Agosto de 2011 do semanário regional BARLAVENTO)
Falta exactamente um mês para o XVIII Congresso Nacional do Partido Socialista (PS), colocando uma pedra em cima do período socrático e marcando o arranque de um novo ciclo de esperança na sociedade portuguesa.
Em Braga, o Secretário-Geral eleito, António José Seguro, assistirá à eleição dos restantes órgãos nacionais e à consagração da estratégia de orientação política global que construiu neste intervalo de tempo, com a participação de milhares de militantes socialistas e de cidadãos independentes que não se revêem nas políticas neoliberais e conservadoras do actual Governo.
Liderar a oposição em Portugal é uma tarefa impossível para um homem só, independente mente da enorme dimensão das suas qualidades e virtudes, da sua determinação e da experiência acumulada numa carreira política impoluta. António José Seguro é a pessoa certa para esta missão, mas os militantes socialistas que o elegeram, e muitos daqueles que votaram em Francisco Assis, já manifestaram que não estará sozinho na travessia do deserto.
O grande desafio do PS, como já afirmou Mário Soares, é encontrar o seu lugar e enfrentar sem receios as obrigações decorrentes de uma refundação ideológica. Aliás, é fundamental para os grandes partidos europeus da família socialista e social-democrata recuperarem os valores da igualdade e da fraternidade constantes das suas cartas de princípios e que pareceram esquecidos durante alguns anos.
Perante um futuro incerto e hipotecado, compete aos líderes socialistas da Europa devolverem a esperança aos seus concidadãos, preparando-os para enfrentarem com ânimo a batalha para ganhar o futuro. Como fazer para que a “esperança e a história rimem?” Como sair deste pessimismo contagiante?
Como sublinha Daniel Innerarity, “a crónica falta de confiança no sistema político tem menos a ver com a capacidade das instituições do que com a hipertrofia das nossas expectativas”. Tal leva-nos ao encontro da realidade das dificuldades nacionais históricas ampliadas por uma crise económica internacional que ultrapassou as piores previsões e começa a ter implicações sociais impensáveis. Os casos recentes de Oslo e Londres exigem-nos outra atenção e comprovam que não há respostas heróicas e messiânicas…
Colocando de lado quaisquer facilitismos ou resignações, é no retorno à política assente nos princípios e nos valores, com os pés assentes na dureza da realidade, que se podem encontrar as soluções de futuro que desejamos. Parecendo-nos cada vez mais obrigatória a renovação do modelo social europeu, importa promover o desenvolvimento sustentado da economia, assegurar modelos eficazes de regulação financeira e controlar as redes fundamentais de serviços públicos essenciais à vida das sociedades (água, energia, telecomunicações, transportes, etc.), permitindo uma partilha racionalmente justificável dos recursos disponíveis.
É nesta conjuntura que António José Seguro assume a liderança do PS e da oposição, com a criatividade e a sensatez que lhe são conhecidas, cabendo-lhe refazer os laços desfeitos com as forças mais dinâmicas da sociedade portuguesa e dar o nosso contributo para a reconstrução da esquerda europeia, participando na redefinição da social-democracia num processo decisivo para o futuro dos partidos socialistas europeus.
A crise das democracias ocidentais assenta sobretudo na evolução triunfante dos ideais individualistas, na atomização dos interesses e na fragilização das teias que caracterizam as comunidades. Sem líderes carismáticos, a Europa deixou-se enredar numa nuvem neoliberal que dispensa os princípios da fraternidade e da solidariedade. Só percebendo tal evolução, será possível às forças políticas da esquerda lutar por um novo paradigma de sociedade, desintoxicando as elites e os líderes de opinião e proporcionando-lhes novas regras de conduta moral e social.
Como sempre, partindo da base para o topo das instituições democráticas, compete às esquerdas assumirem um contrato de desenvolvimento com as comunidades locais que seja assumido progressivamente pelo Estado, enquanto grupo de cidadãos e de instituições.
Por tudo isto, é imprescindível que o PS regresse às bases, apostando estrategicamente nas eleições dos órgãos das autarquias locais de 2013 numa fase decisiva do caminho difícil que nos conduzirá às próximas eleições legislativas, sejam elas quando forem!
NOTA FINAL – Independentemente das questões internas, os tempos conturbados que o semanário BARLAVENTO atravessa obrigam-nos a repensar o futuro dos pequenos órgãos de comunicação social. Felicito-vos a todos, sem excepções, pelos resultados obtidos ao longo dos anos e manifesto uma esperança sincera nos sucessos de amanhã…