(Publicado na edição de 23 de Dezembro de 2004 do jornal POSTAL DO ALGARVE)
O ano de 2004 fica marca pela queda incessante da confiança na política e nos políticos que nos servem. Todos perceberam as razões que levaram Jorge Sampaio a dissolver a Assembleia da República. Pela incapacidade e pelo caos na governação de Portugal!
Cada dia isso é mais evidente, apesar de tentarem ocultar o sol da realidade com a peneira das medidas desgarradas e ineficazes. É tempo de enfrentar a verdade do défice orçamental e o descalabro total das contas públicas, não obstante os sacrifícios impostos às famílias portuguesas desde 2002.
Os números do desemprego, a situação na saúde, a quebra do poder de compra, a incerteza das reformas e a incompetência na educação são indesmentíveis.
Liderados por Durão Barroso e Santana Lopes, os governos do PSD e do CDS/PP tiveram muito tempo para melhorar a situação do País, contando com o apoio do Presidente da República e com a paciência dos portugueses, mas só aprofundaram os efeitos da crise económica e geraram uma crise social impensável. É justo que os portugueses questionem a utilidade destes governantes!
Certos de derrota caso se se apresentassem coligados, depois de consultarem os oráculos e as sondagens, os seus líderes optaram por uma pobre estratégia de mercearia – vamos cada um pelo seu lado, eu pesco á direita e tu ao centro e depois dividimos os despojos. Não há um projecto nacional, não há uma ambição, não há razões para merecerem um único voto!
Portugal precisa de uma classe política mais competente, de renovar os seus protagonistas.
Após um período de grande participação cívica depois da Revolução de Abril, os portugueses deixaram de interessar-se pela política de forma activa. Votam e vão à sua vida. Basta assistir às assembleias ou às reuniões de câmara, basta entrar numa assembleia de freguesia!
A restauração da racionalidade burocrática no funcionamento dos órgãos autárquicos e a consolidação de procedimentos de gestão rotineiros e impessoais conduziram-nos a este beco. Os portugueses toleram quem não cumpre a lei e não há uma intervenção cívica continuada e vigorosa contra este estado das coisas. Se calhar, por ser conveniente aos titulares dos cargos e dos poderes públicos!
Mas, este beco tem saída, não passa por cruzarmos e braços, optarmos pela abstenção e permitir que outros decidam por nós. Isso é o que eles queriam!
Assim, importa encontrar soluções para aumentar a transparência do financiamento dos partidos políticos e dignificar a participação dos melhores na função política, garantindo-lhes um maior reconhecimento social da sua dedicação à causa pública.
É imprescindível assegurar o funcionamento eficaz da máquina da justiça, para voltarmos a acreditar na força da lei e do Estado de Direito, para desincentivar a corrupção e fazer com que as pessoas difamadas possam defender a sua credibilidade e restabelecer a sua dignidade em pouco tempo.
Uma maior abertura dos processos de decisão a conselheiros técnicos especializados, a avaliação regular das iniciativas desenvolvidas e uma melhor gestão da exposição pública dos titulares, bem como a reforma do sistema eleitoral seriam medidas bem recebidas.
A introdução de círculos eleitorais uninominais e a regionalização administrativa aumentariam a responsabilização dos eleitos perante os cidadãos.
A participação personalizada dos cidadãos mostra-se essencial, senão vital para a sobrevivência do nosso sistema democrático. Vale a pena pensar nisto. Boas Festas!
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