(Publicado na edição de 25 de junho do Algarve Informativo)
Há municípios que celebram o dia da
cidade e vilas que comemoram o dia do município, outros deixam-se levar pelo
calendário das festividades locais de caráter sazonal e acumulam as festas esquecendo
o seu passado ou pouco fazendo para valorizar a sua história…
No Algarve, na falta de uma data
comemorativa da unidade regional, os dezasseis concelhos (ou será municípios?!)
assinalam tais efemérides da mesma forma, alinhando as celebrações com as
festas da Espiga (Loulé e Monchique) ou dos Santos Populares (particularmente
do São João, como são os casos de Castro Marim e Tavira), numa tradição que
remonta ao Estado Novo, ou comemorando as datas de elevação a cidade (13 de
maio – Vila Real de Santo António, 7 de setembro - Faro e 11 de dezembro -
Portimão)…
Albufeira comemora o seu feriado
municipal no dia 20 de agosto, data que simboliza a entrega da Carta de Foral,
em 1504, pelo rei D. Manuel I. Por outro lado, segundo José Varzeano, “Alcoutim
até tem um feriado municipal sem data e sem qualquer significado!”
Em Aljezur, a data escolhida recai nas
ancestrais tradições dos povos locais, recriando o tradicional banho 29 na
praia de Monte Clérigo ou noutra mais perto. Ainda acontece coisa parecida nas
praias de Cacela ou de Lagos, mas sem tal honra institucional. Em Lagoa,
celebram-se a 8 de setembro as festividades de Nossa Senhora da Luz. Mais a
barlavento, em Vila do Bispo e Lagos, nos dias 22 de janeiro e 27 de outubro, o
Dia do Município é celebrado em honra dos respetivos padroeiros, São Vicente e São
Gonçalo de Lagos, que deu nome à nova freguesia urbana.
Em plena invasão francesa, o movimento
restaurador da soberania iniciou-se no dia do Corpo de Deus, em 16 de junho de
1808, tendo os olhanenses conseguido impor-se perante as forças napoleónicas. Também
já lá vão uns aninhos, São Brás de Alportel continua a celebrar a elevação da
freguesia a concelho (1 de junho de 1914), marcando a sua independência em
relação a Faro!
Em Silves, em 3 de setembro, continua a
celebrar-se a tomada da então capital do reino do Algarve aos mouros, não
obstante Al-Mut’amid e Ibn Ammar serem consideradas cada vez mais personagens
incontornáveis da sua história.
No primeiro quartel do século XIV, a
vila de Tavira era considerada a maior urbe do Algarve, suplantando a cidade de
Silves, devido ao crescimento económico e demográfico que apresentava, quando
lhe é atribuído o primeiro foral. No terceiro volume da sua História de
Portugal, Joaquim Veríssimo Serrão considera-a mesmo como a terceira cidade dos
reinos de Portugal e dos Algarves, apenas ultrapassada em dimensão e
importância política por Lisboa e Coimbra.
A então “Nobre e Leal Villa de Tavilla”
foi elevada a cidade a 16 de março de 1520 por D. Manuel I, confirmada por
carta régia de D. João III de 10 de novembro de 1525 (trasladado no 1.º Livro
de Reforma dos Tomos da Câmara de 1733): "(…) fazemos a dita villa cidade e queremos e havemos por bem que daqui
em diante se chame cidade e como tal gouva de todallas honrras graças mercês
previlegios Liberdades e franquezas(…)".
Segundo a carta régia de D. Manuel I,
Tavira mereceu o novo estatuto graças ao “mayor
crecimento e por ser considerada (…) huma das principaes Villas de nossos
Reynos e munto Povoada de fidalgos, Cavalleiros e outra gente de Mericimento e
que estão sempre aparelhados pêra nos servirem com armas homens cavallos Navios
e como por todas estas Rezoeis de Couza Justa que a dita villa façamos o
acreçentamento de honra (…)".
Esta carta régia veio confirmar um
estatuto que há muito se vivia em Tavira. A demonstrá-lo existe documentação no
Arquivo da Misericórdia, datada de maio de 1513, onde Tavira já era designada
como cidade. E, no futuro, que tal comemorarmos condignamente mesmo este
verdadeiro Dia da Cidade?!